Luis Arce Catacora, ex-ministro de economia de Evo Morales e seu dublê na eleição presidencial deste ano foi eleito no primeiro turno. O economista fora escalado pelo próprio ex-presidente que, desde o exílio, coordenou a retomada do poder na Bolívia, depois que ele fugiu em meio a uma rebelião popular. Morales se mandou da Bolívia depois de uma fraude eleitoral flagrante.
Depois de quase um ano de interinidade de Jeanine Añez, o MAS veio à forra e conseguiu recuperar a presidência em uma eleição feita sob os olhos atentos do mundo e dos órgãos de controle.
Lá da Argentina, onde se escondeu sob as asas de Alberto Fernández, Evo Morales celebrou. Afinal, na cabeça dele Evo é Arce. E na cabeça do próprio presidente eleito, Arce é Evo.

Mas, os resultados da eleição podem mudar o jogo. Nem o mais otimista dos massistas esperava uma votação tão massiva (com o perdão do trocadilho) no candidato socialista.
Em novembro do ano passado, Evo Morales conseguiu 40% dos votos roubando. Meteu a mão nas urnas para poder liquidar a eleição no primeiro turno, pois ele sabia que estava liquidado.
Sem fraude, Arce recebeu mais de 52% dos votos. Ou seja. Ele é maior que o chefe. O MAS é maior que o Morales.
A notícia que saiu das urnas bolivianas é a seguinte: os bolivianos se cansaram de Evo Morales. Cansaram-se de seu abuso com as regras democráticas e dos escândalos sexuais associados a uma possível predileção por menores de idade.
Evo Morales abusou.
O seu partido, o MAS, cuja base é cocaleira e tem vínculos estreitos com os provedores de insumos para a produção de cocaína, estava indo para mesmo o caminho, mas fora salvo pelo coronavírus.
Jeanine Añez assumiu um país quebrado economicamente e institucionalmente despedaçado. Logo em seguida, a pandemia de coronavírus atingiu o mundo sepultando as chances de qualquer chance de sucesso para seu temporada à frente do governo.
A conta do fracasso, é óbvio, foi debitada de seu capital político. O boliviano comum passou a pensar no passado recente em que as coisas eram menos ruins para eles e associaram ao MAS.
De acordo com um observador do processo, Arce pode se despertar muito em breve que Evo Morales é um problema é não uma solução.
Eleito honestamente, com uma votação superior à de seu criador e com a missão de colocar de pé um país falido e dividido por obra e graça de Evo Morales, Luis Arce tem a chance de avançar muitas casas em seu projeto se livrando do peso de Morales e seu passado narcopolítico.
Arce terá a chance de ser ou como o equatoriano Lenín Moreno, que mandou o seu criador bolivariano Rafael Correa às favas para tentar trazer o país para os trilhos, ou ser como Nicolás Maduro, herdeiro de um fantasma.
Se livrar do ex-presidente e de seus vícios será algo que o eleito terá que fazer logo na largada de seu governo.
A capacidade de Arce trair Morales será proporcional ao seu instinto de sobrevivência.